sexta-feira, agosto 21, 2009

Ausência



Eu deixarei que morra em mim
o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa
de me veres eternamente exausto.

No entanto a tua presença
é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto
e em minha voz a tua voz.

Não te quero ter porque em meu ser
tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados

Para que eu possa levar uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
como nódoa do passado.

Eu deixarei...
tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos
e tu desabrocharás para a madrugada.

Mas tu não saberás
que quem te colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face
na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos
da névoa suspensos no espaço.

E eu trouxe até mim a misteriosa essência
do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros
nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém
porque poderei partir.

E todas as lamentações do mar,
do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente,
a tua voz ausente,
a tua voz serenizada.


Vinícius de Morais

Nenhum comentário: