sábado, setembro 26, 2009

O Jogo de Xadrez



O jovem disse ao abade do mosteiro:

- Bem que eu gostaria de ser um monge,
mas nada aprendi de importante na vida.
Tudo que meu pai me ensinou foi jogar xadrez,
que não serve para iluminação.

Além do mais, aprendi que qualquer jogo é um pecado.

- Pode ser um pecado mas também pode ser uma diversão,
e quem sabe este mosteiro não está precisando
um pouco de ambos - foi a resposta.

O abade pediu um tabuleiro de xadrez,
chamou um monge, e mandou-o jogar com o rapaz.

Mas antes da partida começar, acrescentou:

- Embora precisemos de diversão, não podemos permitir
que todo mundo fique jogando xadrez.
Então, teremos apenas o melhor dos jogadores aqui;
se nosso monge perder, ele sairá do mosteiro,
e abrirá uma vaga para voce.

O abade falava sério. O rapaz sentiu que jogava
por sua vida, e suou frio;
o tabuleiro tornou-se o centro do mundo.

O monge começou a perder. O rapaz atacou,
mas então viu o olhar de santidade do outro;
a partir deste momento, começou a jogar errado
de propósito. Afinal de contas preferia perder,
porque o monge podia ser mais útil ao mundo.

De repente, o abade jogou o tabuleiro no chão.

- Voce aprendeu muito mais do que lhe ensinaram - disse.
- Concentrou-se o suficiente para vencer,
foi capaz de lutar pelo que desejava.
Em seguida, teve compaixão, e disposição
para sacrificar-se em nome de uma nobre causa.

Seja bem-vindo ao mosteiro, porque sabe equilibrar
a disciplina com a misericórdia.



Paulo Coelho
em Globo 114 - Pecados

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